Hoje faz um mês que lancei o meu livro Desmecanismos, com poemas, bordados, colagens e encadernação costurada.
Criar um livro artesanal foi uma idéia que partiu, primeiramente, de uma necessidade material. Com os livros publicados por editoras tradicionais, nós escritores temos poucos ganhos financeiros, apenas 10% do valor de capa.
Por isso, para quem pretende viver de sua literatura, a autopublicação em suas várias formas é um caminho interessante.
Dentre as diversas opções de autopublicação, optei pelo artesanal motivada pelo exemplo da poeta mineira Mell Renault, que há muitos anos faz livros e zines artesanais e vive dessa arte. Vendo a experiência dela, resolvi criar o meu artesanal, com a minha cara, o meu estilo, minhas habilidades.
No entanto, foi no decorrer da produção do livro que percebi o quanto eu me conectei com ele. Ter o primeiro livro publicado em fevereiro foi evidentemente uma grande realização, a concretização de um sonho. Mas ter em mãos um livro feito inteiramente por minhas mãos, que continha tanto do meu ser, foi outra qualidade de realização.
O conceito do livro traz as contradições e sínteses entre o que é vivo e o que é mecânico no mundo e na poesia. Os poemas ora caminham pelo funcionamento da palavra, ora observam os movimentos dos seres viventes, ora enfrentam as máquinas. Há momentos em que esses elementos se confrontam.
Por isso, escolhi materiais que remetem ao mundo mais duro, como a lixa, e outros que trazem a fluidez orgânica, como as linhas bordadas. E coloquei esses materiais em contraste com seus conceitos. Não à toa há engrenagens bordadas e flores e pássaros feitos de lixa. Ou um ramo de sempre-viva interferindo no funcionamento da engrenagem da capa.
Desmecanismos possui minhas impressões digitais em cada detalhe e costura, desde a escrita dos poemas e diagramação até o acabamento. Quem o recebe percebe o quanto estou nele.
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